Matéria Especial | Desmistificando Resident Evil

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Jill Valentine

É muito comum ver os fãs de Resident Evil defendendo seus pontos de vista com garras e dentes, seja por causa do personagem favorito, do título favorito ou até para defender oportunamente algo que trouxe à comunidade, como uma notícia em primeira mão ou um detalhe que acredita ter passado despercebido por muito tempo. Porém, não importa o quanto muitas vezes tentemos dar murro em ponta de faca, as coisas não são como argumentamos, e uma grande parte dos fãs de Resident Evil acaba tendo ilusões e utopias acerca da série, levando-os a fazer teorias mirabolantes e até as utilizando como “fatos” para justificar seus pontos em debates. Este artigo visa citar alguns destes temas polêmicos, desmistificando pontos mais discutidos entre os admiradores da série, e talvez ajudando a esclarecer e encerrar diversas discussões pela internet afora.

O mito: A roupa de Jill em Resident Evil 3 foi escolhida para facilitar na hora de correr, já que estava muito calor, e assim ela tem mais mobilidade e corre menos riscos de sua roupa enroscar em inimigos ou em certos locais e objetos.

A verdade: A roupa de Jill Valentine em Resident Evil 3 é a mais inadequada possível para fugir de uma cidade cheia de zumbis loucos para devorar sua carne. Além de não haver proteção no colo e nas pernas, a saia colada é muito desconfortável para correr e um top vulgarmente conhecido como “tomara-que-caia” tende a ficar escorregando o tempo todo. Justamente por estar calor, a saia não é o tipo de roupa mais apropriada, já que ocorre transpiração entre as pernas, provocando assaduras e até mesmo feridas, o que acabaria causando desconforto e atrapalhando na hora de correr ou até mesmo andar. As feridas causadas por assaduras seriam uma janela para a entrada do vírus, especialmente quando Jill anda na água do esgoto, suja e provavelmente contaminada, ainda mais a água da usina, no final do jogo.

Quem pratica exercícios físicos sabe que as roupas ideais são moletons e tecidos como tactel e algodão, que absorvem rapidamente o suor, secam muito mais rápido e permitem que a pele respire. É impossível praticar exercícios físicos de saia e top, e se Jill corre pela cidade toda procurando uma rota de fuga, de certa forma está fazendo uma atividade física.

O outro ponto em sua roupa é a respeito de ser mais oportuna para evitar mordidas e ataques de zumbis. A pele desprotegida, na verdade, tem muito mais chances de sofrer arranhões, mordidas e quaisquer ataques de inimigos. Jill é uma militar recentemente suspensa, e não é possível que tenha se esquecido do uniforme que utilizava nos seus tempos de S.T.A.R.S.: vestes reforçadas e em tecidos rígidos, com joelheiras, ombreiras, cotoveleiras e coturnos resistentes. Por mais que um zumbi possa agarrar sua calça e tentar mordê-la, o tecido protegeria e daria uma menor chance para que os dentes do zumbi chegassem à pele.

Jill provavelmente saiu de casa às pressas, tendo tempo apenas de montar e recarregar sua arma, possivelmente no momento de uma invasão ao local. Como estava vestida com a saia e o top, pegou apenas uma blusa e a amarrou na cintura, e seguiu para a delegacia para se armar apropriadamente para a situação.

O mito: O correto é como acontece nos títulos Chronicles, onde os personagens andam todos juntos. É loucura andarem separados, já que correm mais risco de morrer.

A verdade: A tática militar diz que o ideal é se separarem, como é mostrado no primeiro Resident Evil. Todos ali são policiais de elite e estão equipados com armas fortes e, principalmente, rádios por onde podem manter contato. O capitão do grupo, no caso de Resident Evil sendo Albert Wesker, é quem determina quem vai para qual lado e se irão sozinhos ou em duplas, dependendo do caso. Pode parecer uma visão um tanto cruel, mas ao irem todos juntos, correm maior risco de morrerem todos ao mesmo tempo, o que não acontece estando cada um investigando uma determinada região. Dependendo do tamanho de um ambiente, é mais fácil um fugir e desviar de um inimigo do que dois ou três, podendo um ficar para trás e o outro se levando pela emoção de voltar para ajudar e também ser atacado.

Em Resident Evil 2, Leon é o policial e Claire é uma civil, e eles se separam a princípio por causa do caminhão que explode. Ao se encontrarem na delegacia, Leon entrega um rádio à Claire – agora ciente de que ela é irmã de um policial de elite – e diz que eles devem se separar e buscar sobreviventes para fugirem dali. Leon é um policial e sabe como agir neste tipo de situação, e apesar de Claire ser uma civil, ela sabe manejar uma arma. No caso de uma civil sem experiência alguma com táticas militares ou armas de fogo, o correto seria deixá-la em um lugar potencialmente seguro e seguir sozinho até encontrar ajuda, mas nunca ficar andando junto com ela, já que seria mais arriscado para ambos, botando toda a operação a perder, sendo exatamente isto o que faz Leon quando Ada está ferida. Como carregar para lá e para cá uma pessoa fatalmente machucada e que mal consegue andar? Por falta da devida experiência e por ser um novato, além de ser levado pelas emoções, Leon ainda tenta convencê-la a ir com ele, mas a própria Ada recusa, para o bem dos dois.

Caso semelhante ocorre em Resident Evil 3, envolvendo Jill, Carlos e Nicholai. Os três são militares experientes, e sabem que se separando, além de aumentarem as chances de sobrevivência, conseguirão mover o bonde mais rápido, cada um cumprindo seu papel e o que lhe foi designado para que possam fugir dali o quanto antes.

O mito: Não é justo que Claire tenha se resumido a entrar para uma ONG quando Leon fica ganhando o papel de herói e salvador da pátria em Resident Evil: Degeneration. Claire sobreviveu a Resident Evil 2 e CODE: Veronica e deveria ter lutado ao lado de Leon no filme.

A verdade: Claire não é uma policial, Leon é. E Claire já não pode mais se tornar uma policial, ao contrário de Leon, que passou por todo o processo de serviço militar, tem licença para o uso de armas de fogo e foi rigidamente treinado para situações adversas.

Como policial, Leon sequer pode entregar uma arma a uma civil sem porte, não importa o quão complicada está a situação, ele estava resgatando um senador que poderia muito bem relatar o fato a um superior de Leon, o que causaria, na pior das hipóteses, sua exoneração do cargo de agente. Por que arriscar sua pele e seu cargo? Portanto, tudo o que Claire pode fazer, ao contrário de Chris e Leon, é lutar moralmente contra o bioterrorismo, ingressando em uma ONG e usando sua experiência em Raccoon e na Ilha Rockfort em prol das vítimas de tragédias envolvendo vírus e outras catástrofes biológicas pelo mundo.

O mito: Mas eu ainda acredito que Claire será a protagonista de um futuro Resident Evil. Ela devia ter sido a parceria do Chris em Resident Evil 5, que personagem mais injustiçada!

A verdade: Como já foi dito, Claire é uma civil, sem porte de armas e sem a devida experiência para agir em operações como a de Resident Evil 5. Como não é uma policial, não pode ingressar na BSAA, não importa se ela é irmã de Chris Redfield, ela simplesmente não pode, pois não tem a formação militar necessária para isto.

Sim, ela sobreviveu a Raccoon e a Ilha Rockfort. Claire é uma mulher forte, resistente, provavelmente aprendeu com Chris como manejar uma arma e, quem sabe, praticou artes marciais ou algum tipo de atividade física ou de luta por anos, o que a tornou resistente. Isto, porém, ainda não a faz uma militar, e nem a fará. Claire chega a Raccoon com vestes inapropriadas para sobreviver a uma catástrofe daquelas, mas foi pega de surpresa e sobreviveu também graças ao policial Leon, que já vinha sendo treinado na academia para situações perigosas. Não é à toa que foi capturada no laboratório da Umbrella em Paris: que formação Claire tem para criar uma estratégia de infiltração em um local altamente vigiado? Sem falar nos trajes utilizados por ela ao entrar no local: faltaram proteções como cotoveleiras, tornozeleiras e colete à prova de balas, e os tecidos e cores de sua roupa não condiziam com o tipo de operação a ser realizada, assim como também não tinha o aparato necessário para tal situação.

A Capcom pode até colocar Claire como protagonista em um futuro jogo da série, e sabemos que tudo se pode esperar deles, mas seria um ato falho, além de pouco provável, já que o filme Degeneration deixou bem claro qual é o papel da personagem na série a partir de agora.

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