Matéria Especial | A Importância dos Títulos na Série

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Albert Wesker (Resident Evil: The Umbrella Chronicles)

Como toda série de sucesso, Resident Evil tem diversos títulos, e pelo jeito continuará existindo enquanto os cofrinhos da Capcom estiverem enchendo. O objetivo deste artigo é justamente elucidar este universo rico de Resident Evil, separando seus jogos em partes, o que é oficial e o que não é na série. Não, nem todos os jogos podem ter seus acontecimentos inseridos dentro da trama oficial e do “canon”, e é disto que trataremos aqui, sobre a importância dos títulos na série.

Primeiramente, muitos ouvem esta palavra o tempo todo e não fazem a mínima ideia do que significa. Afinal de contas, o que é o “canon” de Resident Evil? Literalmente traduzindo, “canon” significa “cânone”, tudo aquilo que é obrigatório, oficial, regrado dentro de um universo ficcional. No caso de Resident Evil, pode-se dizer que faz parte do “canon”, por exemplo, a sobrevivência de quatro personagens (dos que estavam dentro da mansão) no primeiro Resident Evil: Chris Redfield, Jill Valentine, Barry Burton e Rebecca Chambers. Não há um final específico que diga isto, mas sabemos que o final oficial é uma mistura dos dois finais completos de Chris e Jill, respectivamente salvando Rebecca e Jill e Chris e Barry.

Jill Valentine

Por regra, todos os títulos numerados são obrigatoriamente parte do canon da trama de Resident Evil, e são considerados os títulos focados na história principal, nos personagens e acontecimentos centrais. Em resumo, Resident Evil 0, 1, 2, 3: Nemesis, 4 e 5 são a trama central de toda a série, e os jogos que vem com subtítulos são complementares a ela. A única exceção para esta regra é o CODE: Veronica, que era inicialmente para ser uma trama complementar e, por causa de seu sucesso, foi ampliada com a inclusão de eventos entre Chris e Wesker, fazendo com que o título se transformasse em história da série principal.

Estes títulos complementares são conhecidos como “spin-offs”. Um spin-off geralmente é uma história fechada, com começo, meio e fim, e deixa pouca ou nenhuma brecha para uma continuação. Foi por isto que o CODE: Veronica era inicialmente considerado um spin-off, por contar principalmente o reencontro entre dois irmãos. Depois, é claro, houve um foco maior na batalha entre dois antigos rivais, e a aparição de Wesker serviu como um gancho para histórias futuras. Entre outros spin-offs na série Resident Evil estão os Survivors e os Outbreaks.

A série “Survivor” conta com quatro jogos, três levando o nome da série Resident Evil. Destes três, dois títulos são oficialmente spin-offs, o primeiro e o Dead Aim. O primeiro Survivor conta a história dos acontecimentos na Ilha Sheena, onde a Umbrella mantinha uma fábrica de produção em massa de armas biológicas. O personagem principal, Ark Thompson, aparece somente neste jogo e nunca mais aparece na série. Sua ligação com Resident Evil, portanto, está encerrada. O jogo, no entanto, pode e deve ser considerado como parte do “canon” da série, pois sua história complementa a da série principal de jogos numerados. Nada do que acontece neste jogo desmente eventos oficiais, ele até elucida algumas dúvidas, como a sobrevivência de Nicholai com a evidência de um relatório escrito por ele e enviado após os eventos em Raccoon.

O outro título oficial da série Survivor é o “Dead Aim”, focada na aventura de um agente americano tentando prender um ex-pesquisador da Umbrella, que roubou um vírus e o espalhou em um cruzeiro de luxo pertencente à empresa. Mais uma vez, os acontecimentos são complementares, não fazem parte da história principal, mas podem ser encaixados oficialmente, pois não desmentem informações cânones. Tudo o que acontece em Dead Aim tem começo, meio e fim, e assim como no primeiro Survivor, os personagens cumprem seus objetivos e não aparecem mais no universo de Resident Evil.

A razão da série “Survivor” ser uma série separada foi por seu estilo de jogabilidade: um jogo de tiro em primeira pessoa. Foi a primeira investida da Capcom em estilos novos dentro de uma franquia. Posteriormente, foram criadas outras séries, como os “Outbreaks” e os “Chronicles”, que também são spin-offs.

Resident Evil Survivor

Os jogos da série “Outbreak” fazem parte de uma série separada porque focam na jogabilidade online multiplayer. As histórias contadas nos dois Outbreaks complementam a história principal, mas seus personagens também têm começo, meio e fim dentro do universo de Resident Evil, e não aparecem na série principal. Em outras palavras, os civis do Outbreak estão lá para mostrar o lado de pessoas “comuns” em meio à epidemia de Raccoon, e eles acabam se envolvendo indiretamente em acontecimentos da série principal. Ressaltando mais uma vez, indiretamente, e não diretamente. Sua única intenção é fugir da cidade e da horda de armas biológicas, mas acabam envolvidos de alguma forma nos eventos oficiais da série. A percentagem de sua participação nestes acontecimentos é quase nula, mas existe e não deve ser desconsiderada.

Já os “Chronicles” são um tipo diferente de spin-off, já que recontam histórias passadas em forma de lembranças, narradas por um único personagem. Estas tramas passadas são contadas para esclarecer histórias novas, contadas ao longo do desenrolar do jogo. As lembranças servem apenas para situar os jogadores, por isso as mudanças nos acontecimentos passados, pois são resumos de lembranças, não havendo qualquer obrigação ou responsabilidade de ser fiel a cada passo dado.

A série Resident Evil ainda conta com outro tipo de narrativa, as “side-stories”. Há especialmente um título que se encaixa neste tipo de título, o Resident Evil Gaiden, lançado para o Gameboy Color. Na verdade, a palavra “gaiden” é um termo japonês para definir este tipo de história. “Side-stories” são tramas que apenas levam o nome da franquia, mas seus acontecimentos não podem ser considerados como oficiais. Portanto, são o oposto de “canon”. No caso de Resident Evil Gaiden, ele jamais poderia fazer parte do canon, já que nele o personagem Leon morre, e assim seria impossível ele aparecer futuramente em títulos como Resident Evil 4 e no filme Degeneration. Os “side-stories” são histórias paralelas, diferente dos “spin-offs”, que complementam as tramas oficiais.

Muitos se questionam sobre a canonicidade de títulos como Survivors e Outbreaks, que não foram incluídos no livro Resident Evil Archives, a grande enciclopédia que cobre os eventos de Resident Evil 0 a Resident Evil CODE: Veronica. O primeiro livro trata apenas das histórias principais, aquelas que explicamos como sendo as numeradas e o CODE: Veronica, que passou a ser considerado da trama principal.

O fato de estes spin-offs não estarem no Archives não retira de forma alguma a canonicidade deles, já que apenas complementam as histórias dos jogos principais, mostrados no livro. O segundo livro tem a responsabilidade de cobrir os eventos de Resident Evil 4 e 5, e como as tramas dos Chronicles e do Degeneration contam eventos inéditos muito importantes para a série principal, apesar de se tratarem de uma série on-rails (jogo de tiro em trilhos) e de um filme, elas são mostradas sucintamente também neste segundo volume da enciclopédia.

Dito tudo isto, podemos focar no assunto do momento, que é o futuro título Operation Raccoon City. Ele vem causando polêmica por seus trailers e imagens promocionais, que mostram o assassinato de Leon S. Kennedy, protagonista de Resident Evil 2, 4 e do filme Degeneration. Muitos fãs estão preocupados e receosos da morte do personagem, enquanto alguns dão de ombro porque dizem que é um “spin-off” e não acrescentará nada à série. As duas formas de pensar estão redondamente enganadas.

Primeiramente, é importante esclarecer sobre a morte de Leon. O jogo é focado no lado dos vilões, ou seja, você controlará membros do Serviço Especial da Umbrella, a USS, e a sua missão é eliminar quaisquer sobreviventes em Raccoon, para que a epidemia, o vazamento do vírus e toda informação que possa vir a incriminar a corporação seja encoberta. Leon faz parte dos mocinhos, ele é um policial da cidade, portanto sua missão é eliminar não apenas ele, mas qualquer um com o uniforme da polícia local.

Leon S. Kennedy (Resident Evil The Darkside Chronicles)

O que não estão levando em consideração é que Leon é o protagonista de outros títulos de peso, como dois jogos numerados (2 e 4), pertencentes à série principal, e um filme, além de ser citado em Resident Evil CODE: Veronica e Resident Evil 5. Se a Capcom optasse por oficializar a morte do personagem, ela poderia dar adeus a toda a trama que se segue a partir de Resident Evil 2.

Sim, no jogo temos também a Claire Redfield, mas por quem ela é encontrada? E onde ela encontra uma arma? Ela é encontrada por Leon, que a arrasta até uma viatura abandonada na rua e lá dentro do carro ela encontra a arma que a ajudará a sobreviver. Além disto, Claire é uma civil, e por mais selvagem e corajosa que possa ser, ela não é uma policial, enquanto Leon é um policial armado. Fica claro que, ao pedir que ela o encontre na delegacia quando os dois se separam, ela realmente iria esperá-lo.

Se Leon for morto antes de conseguir chegar à delegacia, como sugere o trailer de Operation Raccoon City, a possibilidade de sobrevivência de Claire diminui. Outro fator a ser alterado na história é o destino de Ada Wong, que muda seu modo de agir ao conhecer Leon. Se ele morrer, ela cumprirá sua missão normalmente e não será a anti-heroína que, de alguma forma, acaba sempre ajudando o lado do mocinho por causa de um sentimento proibido. Em resumo, a morte de Leon acarretaria em não acontecer Resident Evil 2, nem Resident Evil 4, nem Degeneration e talvez nem Resident Evil 5, já que ele é citado na trama. O peso do personagem é grande demais para que a sua morte seja oficial. O jogo está apenas dando uma alternativa, assim como é possível fazer finais diferentes em vários títulos da série, resgatando alguns personagens e deixando outros morrerem.

No entanto, o fato de o título ser “spin-off” não o torna dispensável. Ele seria dispensável para o “canon” se fosse uma “side-story”. Os produtores já o confirmaram como história complementar, e como o próprio termo já sugere, este título incluirá coisas novas na trama principal já conhecida. Tirando os eventos já oficializados que conhecemos e não podem ser alterados, como as lembranças nos Chronicles já de antemão desconsideradas, a batalha dos membros da USS contra as Operações Especiais dos Estados Unidos devem, sim, ser levadas em consideração. Tudo aquilo que é inclusão para a trama deve ser incluído no “canon”. Como a morte de Leon é opcional e ele é um protagonista importante na série, este evento em si não é oficial, mas os outros poderão ser, a partir do momento em que o título é intitulado como “spin-off”.

Talvez nem tudo tenha ficado totalmente claro nesta síntese, mas o importante é separar os termos e tipos de narrativas dentro da série. Não se pode desconsiderar eventos por serem títulos menores, é preciso entender que os títulos complementares nos trazem eventos importantes de plano de fundo, dando mais profundidade às histórias dos personagens, resolvendo pendências e ligando pontos na trama geral. Afinal de contas, é esta complexidade que tanto nos atrai a Resident Evil, e o que seria da série sem ela?

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